[RESUMO] O artigo critica a desinformação e as análises enviesadas sobre a guerra da Ucrânia. Aborda o impacto da agressão russa, a dinâmica da Otan e os dilemas do povo ucraniano entre paz e justiça. No terceiro aniversário do conflitoo jogo do tigrinho é confiável, o autor defende que a academia e o jornalismo devem condenar o imperialismo de qualquer potência, sem relativização ou seletividade moral.
Tigrinhofortune tiger
Em uma guerra não há neutralidade. Todo pesquisador e jornalista tem a sua própria visão de mundo. A neutralidade já foi, há tempo, reconhecida como uma utopia nas ciências sociais. A verdadeira ameaça para a ciência, contudo, não está na ausência de neutralidade, mas na falta de objetividade e compromisso com a justiça. Nos últimos anos, vimos como o negacionismo e a desinformação sobre as vacinas tiveram um impacto avassalador na saúde pública. Desde o início da invasão russa de larga escala na Ucrânia em 2022, é notável que a desinformação não se limitou à esfera da saúde, mas também alcançou as análises políticas e internacionais na academia e no jornalismo. Há vários motivos que os explicam.
jogo do fortune tiger
Em primeiro lugar, no Brasil temos um número considerável de russianistas (pesquisadores e jornalistas que estudam a língua, história e política da Rússia), mas pouquíssimos ucranianistas. Quando começou a guerra, as principais análises sobre o conflito foram feitas por russianistas, muitas vezes alicerçados em perspectivas e fontes pró-Kremlino jogo do tigrinho é confiável, sem conceder espaço às vozes ucranianas. Há uma visão "russofílica", em que a Rússia é percebida sempre como a vítima, e nunca como algoz —a despeito de sua expansão territorial, colonização, deportação de minorias e etnocídio nos últimos séculos (vide a sua imensidão). Em segundo, há uma romantização de que a Rússia contemporânea representa o resgate de um passado soviético idealizado, ignorando os posicionamentos de Vladimir Putin alinhados à extrema direita e ao neofascismo. Vale lembrar que o Partido Comunista da Federação Russa, muito influente nos anos 1990, foi um dos grupos políticos mais enfraquecidos pela consolidação de Putin no poder. Por fim, a perspectiva de que, por Putin se opor aos EUA, devemos apoiá-lo a qualquer custo —independentemente de seu posicionamento neofascista e das atrocidades que venha a cometer dentro e fora da Rússia. As narrativas da "guerra justa" de Putin têm ampla repercussão no Brasil e no Sul Global, como o mito de que a invasão foi uma estratégia de defesa contra o expansionismo da Otan. Em nenhum momento a Ucrânia esteve prestes a entrar na Otan. Uma declaração foi feita em 2008 na Conferência de Bucareste, mas nenhum passo concreto foi dado. Havia espaço para barganhas e negociações. A invasão de 2022 só deu ímpeto e legitimação para o aumento da aliança, abrangendo países (Finlândia e Suécia) que historicamente eram contrários à adesão. Sua fronteira terrestre com a Rússia mais do que dobrou desde então; a Rússia não está mais segura hoje do que antes da guerra.